Natureza alucinógena

Junto à mesa o ser social nasceu
No banquete da noite
príncipes e plebeus
falaram enfurecidos
dançaram entorpecidos
Ao raiar do dia
lobos,
homens e
pássaros
voltavam a sua rotina:
água pra beber
folha, carne e sementes pra comer
No meio da mata
o lobo inalou um pó sagrado
o homem enrolou e tacou fogo
num fumo engraçado
o pássaro beijou uma flor do cerrado
De novo, a lua apareceu
e os bichos a saudaram
com prazer
alucinogenádos.

Minha cabeça

O desinteressante me interessa
Não quero falar e ouvir dos outros
e das coisas
Quero sentir o meu jardim
Arrancar as folhas das minhas incertezas
e no teu solo dormir
um sono leve
despretensioso
Não quero acertar
tampouco lamentar
Repito: Quero sentir!
O que de mim ainda existe dentro de mim?
O que dos outros, de verdade,
posso sentir?
Tô começando a observar e a crer
que junto ao mar
é melhor esperar
a onda boa pra pegar.

"Minha cabeça só pensa aquilo que ela aprendeu, por isso mesmo não confio nela, sou mais eu." Raul Seixas